No momento em que o sol
agride frontalmente a ilha,
ela se abre e nos mostra incrustados em
seu chão.
Sem ação, contemplamos o mar
e o brilho de césio a que estamos expostos
com nossos olhares de chumbo.
Contaminados.
Estão todos contaminados,
os que se banham nessas águas.
Dizemos, com um vazio nos olhos e as bocas abertas:
a morte os espera.
Não os enterrem, cremem para que
desapareçam na mistura com o pó preto.
Não nos deixem
ver a desgraça.
E talvez passemos satisfeitos,
escondendo-nos
o motivo da náusea que faz toda a ilha perecer.
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
sábado, 26 de novembro de 2011
Ectopia cordis
I
Amar é ter pra fora as vísceras e deixar
às vistas pra quem é médico prático
operar e costurar ao avesso no peito
II
Com a carcaça vazia, tudo
que a mão sem luva revira -
externo ao esterno - é miúdo.
Amar é ter pra fora as vísceras e deixar
às vistas pra quem é médico prático
operar e costurar ao avesso no peito
II
Com a carcaça vazia, tudo
que a mão sem luva revira -
externo ao esterno - é miúdo.
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
domingo, 23 de outubro de 2011
E me perco nesses labirintos
de ninguém mas nossos
criando sonhos
de insones insossos
expostos nas galerias
subterrâneas
Cansado e cônsono
do contra-senso
E me corto a cútis
sutilmente
mas o suficiente para o desastre
noturno
da vida sonhada
em esforço fajuto
que finge o aceite
do fato e do feto
mas aborta absorta
com vulgar abordagem
nas paredes que fecham
o recinto do afeto
pra fugir da ferida
fétida dos restos
Indolor, experimento
o quadro absurdo
que fede
à bocejo acre de sono
e rexisto, apesar do silêncio noturno,
confuso
à recusa do que a mim se escusa
Sem prumo, luto
no que acredito:
a experiência lúcida
e presente da pele
de ninguém mas nossos
criando sonhos
de insones insossos
expostos nas galerias
subterrâneas
Cansado e cônsono
do contra-senso
E me corto a cútis
sutilmente
mas o suficiente para o desastre
noturno
da vida sonhada
em esforço fajuto
que finge o aceite
do fato e do feto
mas aborta absorta
com vulgar abordagem
nas paredes que fecham
o recinto do afeto
pra fugir da ferida
fétida dos restos
Indolor, experimento
o quadro absurdo
que fede
à bocejo acre de sono
e rexisto, apesar do silêncio noturno,
confuso
à recusa do que a mim se escusa
Sem prumo, luto
no que acredito:
a experiência lúcida
e presente da pele
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
Não sinto o que escrevo, minto
Não falo o que sinto, calo
Não escrevo o que calo, escravo
Não culpo o acaso ou o ocaso
Escravo do que sinto, cuspo
Sinto o ocaso se escrevo
Calo o que escrevo, minto
Se acaso falo me culpo
Culpo o que sinto se falo
Escrevo escravo do calo
Cuspo ao acaso o que sinto
Minto o ocaso e escrevo
Cuspo o que sinto e me calo
Não falo o que sinto, calo
Não escrevo o que calo, escravo
Não culpo o acaso ou o ocaso
Escravo do que sinto, cuspo
Sinto o ocaso se escrevo
Calo o que escrevo, minto
Se acaso falo me culpo
Culpo o que sinto se falo
Escrevo escravo do calo
Cuspo ao acaso o que sinto
Minto o ocaso e escrevo
Cuspo o que sinto e me calo
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
Poema infantil (ou uma descoberta metafísica)
Os pássaros, melhores voando são
Quando tive um único na mão
Tentei ser firme ao segurá-lo
Assim, matei-lo sufocado
Joguei-lo ao céus pela janela
Roguei a Deus mais uma chance
Mas ele foi de encontro ao chão
Os pássaros, melhores voando são
Quando tive um único na mão
Tentei ser firme ao segurá-lo
Assim, matei-lo sufocado
Joguei-lo ao céus pela janela
Roguei a Deus mais uma chance
Mas ele foi de encontro ao chão
Os pássaros, melhores voando são
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
se disser que estou morto
não te assustes
nada se passa em mim ou no mundo
além do passeio na concretude
do trabalho,
da mendicância
da mendicância
da rua e da parede de poesia
que a afasia não permite descrever
e a miopia distinguir
envolto nesse lixo:
de olhares e palavras
sem nexo
sem nexo
decrépito, repugnado
prolixo
prolixo
procuro, na decomposição
dos sentidos,
dos sentidos,
encontrar vida proveniente
brotando
desta putrefação toda
desta putrefação toda
sexta-feira, 5 de agosto de 2011
Poema de amor
ando anônimo pela cidade
cheirando
a álcool e tabaco
encharcado da chuva e dessa
luz incandescente
desço a rua atônito e indeciso:
fodido só
ou safo entrementes?
sobre o asfalto vomitado
estou perdido, mas permaneço
seguindo os restos
como um rato (bêbado).
rastejando entre os dejetos
sobre as faltas, vou-me tardo
tateando algum desejo
cuspo .
cuspo a pedra nua
vislumbrando a pele escura
que é motivo deste vômito
e me move
cheirando
a álcool e tabaco
encharcado da chuva e dessa
luz incandescente
desço a rua atônito e indeciso:
fodido só
ou safo entrementes?
sobre o asfalto vomitado
estou perdido, mas permaneço
seguindo os restos
como um rato (bêbado).
rastejando entre os dejetos
sobre as faltas, vou-me tardo
tateando algum desejo
cuspo .
cuspo a pedra nua
vislumbrando a pele escura
que é motivo deste vômito
e me move
sexta-feira, 29 de julho de 2011
quarta-feira, 20 de julho de 2011
Dentro desta pele acidentada
Procura o que há profundo – em si, nada
Percebe menos essência do que acidente
De permanente, o acre do balbúcio
Por fora lisa, a boca desdentada
Cerrada, esconde o áspero – do deveras gritado
Como não se pode, poda (... penso
Ensinado: pede asilo e se prostra)
A cara marcada e os lábios roxos
São o sufoco da língua afiada
Que tenta esconder com os olhos
O terror do abismo na garganta
Não olhe fixo se não quiser ser olhado
Foi o que ouvi consternado e digo:
O diabo é o silêncio diáfano da fenda
Que não adverte a vertigem adida
Procura o que há profundo – em si, nada
Percebe menos essência do que acidente
De permanente, o acre do balbúcio
Por fora lisa, a boca desdentada
Cerrada, esconde o áspero – do deveras gritado
Como não se pode, poda (... penso
Ensinado: pede asilo e se prostra)
A cara marcada e os lábios roxos
São o sufoco da língua afiada
Que tenta esconder com os olhos
O terror do abismo na garganta
Não olhe fixo se não quiser ser olhado
Foi o que ouvi consternado e digo:
O diabo é o silêncio diáfano da fenda
Que não adverte a vertigem adida
sexta-feira, 8 de julho de 2011
sexta-feira, 17 de junho de 2011
Fragmento II
Ficou à deriva durante dias com a expectativa de encontrar algo onde pudesse se segurar.
Encontrou uma pequena formação rochosa em meio ao horizonte cerrado. Um movimento natural, porém brusco, do mar, o arremessou. A dureza do corpo o fez ricochetear na água, parando a alguns metros de onde se encontrava anteriormente. Pensou em nadar de volta, mas o marasmo o dissuadiu.
Ficou boiando à espera do momento em que a física se recusaria a compactuar com tamanha falta de densidade para que ele pudesse afundar sem pesar.
Fragmento
Sua lembrança mais remota era o projeto de deixar uma marca valiosa no mundo.
Quando chegou aos trinta resolveu que seu trabalho estava suficiente maduro para que ele fosse devidamente apresentado. Não se importava mais com os críticos. O reconhecimento de seu seu nome era-lhe suficiente.
Fugiu ao máximo dos tons convencionais. Escolheu a assinatura que mais lhe convinha.
Não se viu carimbo mais vanguardista na firma.
segunda-feira, 6 de junho de 2011
Sem nome (e som)
Aquele som com cheiro de terra
Não enche as vias, mas as bocas
De sentidos metálicos... se toca
Os barulhos doloridos são dos gritos
Com gosto amargo de tempos cerrados... errados
Nós, que engolimos seco e esquecemos ecos
Na hora do espasmo deixamos para o estômago
Que, noturno e áspero, tem espaço para o pus
Quando a garganta inflama da cacofonia... contínua
E nós, enterrando os dias em nicotina,
Às vezes, na boca, não sentimos nada
Nem gosto
Nem barulho
Nem ninguém
Não enche as vias, mas as bocas
De sentidos metálicos... se toca
Os barulhos doloridos são dos gritos
Com gosto amargo de tempos cerrados... errados
Nós, que engolimos seco e esquecemos ecos
Na hora do espasmo deixamos para o estômago
Que, noturno e áspero, tem espaço para o pus
Quando a garganta inflama da cacofonia... contínua
E nós, enterrando os dias em nicotina,
Às vezes, na boca, não sentimos nada
Nem gosto
Nem barulho
Nem ninguém
domingo, 29 de maio de 2011
segunda-feira, 16 de maio de 2011
Isto não é um poema (sobre o calor)
Faz muito calor nessa solidão
Talvez isso explique o jardim asséptico
de calor tão limpo e seco
que parece tentar por fim ao pathos
Não pode haver viv'alma, nem
mal'existência
no calor florido
mal'existência
no calor florido
que mata germes e vermes
(e donde toda gente finda)
(e donde toda gente finda)
Não há paixão abaixo do solo, nem dolo
Acima, somente a solidão fatigada pelo sol
Os mortos – os brancos – dessa terra quente
se acreditam no éden
se acreditam no éden
vivendo sólidos, sóbrios e sábios
limpos, polidos, lisos e insípidos
Sepultados no jardim,
sem nem ao menos terem morrido de calor
sem nem ao menos terem morrido de calor
domingo, 15 de maio de 2011
Revolução copernicana de um animal não-ruminante
O poeta fala...
Deixa suas merdas no caminho
Apesar de não quadrúpede
Não tem por costume
Caminhar ereto
Tem a cabeça virada aos pés
Os olhos (desinteressados) aos réus
Come em demasia o seu entorno
Mas jamais rumina
domingo, 3 de abril de 2011
Sem nome (e sono)
Acordado, compartilho o ressono
dos amores que não conheço
dos amores que não conheço
Dormem em mim todos: sonos malditos
sem ditos, sem doses,
saudosos – de coisa alguma
sem ditos, sem doses,
saudosos – de coisa alguma
Notívago, deitado na cama vaga, cheia
de papel e faltadas lembranças, vago
anotando cada noite, para esquecê-las
pelos dias. Nesses, para não deixar vazar o ronco,
de papel e faltadas lembranças, vago
anotando cada noite, para esquecê-las
pelos dias. Nesses, para não deixar vazar o ronco,
Engulo o sono e conjuro as mágoas – não vi(´)vidas
Cansado, naufrago em lama
(cheia de papéis vagos e garrafas destampadas).
Flutuo no escuro, sem luta ou luto, calado.
Mas se me caio, vou do torpor ao arroubo.
Cuspo sangue e injurio o amor – sonho (agora) roto
Cuspo sangue e injurio o amor – sonho (agora) roto
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
Um galo para Asclépio
De novo saio de mim intempestivo
Fumando o cigarro da intempérie
Tragando a fumaça intercalando
Calando a palavra intragável
Devo a mim o pigarro da garganta
Interpreto a minha vida indignado, posto que,
Fortuitamente, o que desejo passa ao largo, como se,
Furtivamente, o ensejo me negasse a parte e,
Fatidicamente, devesse esquecer meu aporte
De vida interina. Porém, tudo o que sou e tenho
De vida interina. Porém, tudo o que sou e tenho
Dádiva não, dívida. E sou quem pago
Sem expectativa de poder quitar
Sentado, esperando o próximo trago
Sentindo, exasperado, as minhas faltas de
Sentido, sobriedade e, sobretudo, cigarro
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