segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Poema sobre grafite

uma mulher cravada
na pedra
com os pés na água
no meio da selva
no meio da
pedra
no meio do caminho
em cima da calçada
no meio do trânsito
- que não passa -
como um murro
como uma pedra
no olho
cravada de quem vira
a pedra

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

poema do golpe comunista

a fraternidade é vermelha
como o nascer do sol
por isso o jogral
dos galos do cabral
jogando o grito pro alto
pro outro pro outro pro outro
até tecer
a
manhã

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

o autor voltou
como problema formal
com cheiro de formol

sábado, 25 de outubro de 2014

o rumor dos morros
enche as ruas
com seu ruído rígido
se instala nas latas
que sustentam
o muro
o trânsito
as calçadas da madrugada
molha nossas línguas
de falas ralas
mas não há nada
em nossos olhos
tomados pela luz clara
para que ver ou ouvir
se é só vulgata?

o rumor dos morros
que ninguém construiu
enche as ruas
com seu ruído rígido
e faz brotar o mundo
em nós
se sentimos na pele
a música entranhada
enquanto atravessamos
no meio da cacofonia
e sentimos o murro
do calor dos corpos misturados ao
asfalto

o rumor dos morros
enche as ruas
com seu ruído rígido
é nosso primeiro mundo
é muro
é música
é murro


quarta-feira, 23 de julho de 2014

um verde parco
sobre o deserto
sob concreto e carro
de onde saiu tanto espaço?
parece só vazio destinado
por sua escala
a encher a rua de abismos
mas de dentro da natureza dura
do clima seco
de edifícios secos
e deste sol que arde
nasce, morre, nasce
morre, nasce
nasce
brotando da superfície alcalina
hostil da cidade
o mato não planejado
que se enraíza em suas ruínas
e constrói esquinas
nas rachaduras das quadras

sábado, 21 de junho de 2014

é carnaval nas ruas narrando
a necessidade do desconserto
de impor a ressaca
ao deserto
de dar a cara à máscara
de dar à cara a máscara
e prender o sol
entre os dentes
para prolongar
seu calor na boca
e sentir repercutir no corpo
os ruídos suor das ruas rimas
e abrir a vida às quimeras
em banheiros químicos
é carnaval

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Fragmento (da travessia) III

nós dados nas esquinas por atropelos sentindo a acuidade do sol e de cotovelos não há travessia tranquila nessas ruas não há sinais claros nos corpos que se cruzam só há o vácuo do próximo ato do movimento desencadeado pelo sol que atravessa o olhar só há essas pequenas passagens que se abrem entre as pernas e revelam ser comum dar em algum lugar

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Aqui não há rompante
de sangue nas ruas
nem rupturas
na superfície dura
do concreto sem
erupção a irromper
- como se lava
o pó de minério e borracha
e as marcas dos pés
que marcham -
aqui só há o gosto
do pus no cuspe na boca
esta cidade inflamada
está pulsando fraco
como bate um coração
de burocrata

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Poema de amor de verões

Queria ter lambido o sal
da sua pele sob o sol
do primeiro janeiro


quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

o sol persiste na pedra
ainda quando se retira
e deixa seu fogo na pele
e no galo que canta
no cair da tarde
ele mesmo se antecipa
e arde do fundo da noite
no rasgo aberto
na garganta e na carne
e povoa a respiração
pesada dos sonos
seja justo ou não

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

a cama nos espera
com as máscaras
da rua
nada de
refeição
silêncio na mesa
e falta de franqueza
carnaval
cachaça
e um pano na boca
queimando
aos poucos
até incendiar
as horas
a prática do desapego
não combina
com fogo
mas com sofás
na sala
do apartamento
aqui
é luta armada
suor e carne
e fome
e baile
e máscara
e cachaça
e um pano na boca
que como chama fala