segunda-feira, 30 de abril de 2012

A madrugada
livra as horas
das engrenagens
e pára
os olhos
no céu de chumbo.
O dia,
subtraído à claridade
intermitente,
é o lugar do instante
que se dobra
sobre si.
Sem sombras,
pode-se
contemplar o momento
que escapa
ao tempo
e obriga
o céu a nos dizer algo
apesar
do ressoar
da mecânica
do quartzo
no silêncio.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

                            
                               para B. A.


Olho pela janela te procurando
não sobra nada de mim
nesses casarões que assombram
as ruas que trazem histórias,
que me atravessam. Atropelado

nu. Agradeço, ninguém me vê,
despudorado, olhando dentro de ti,
sentindo teu cheiro de castanha e
combustível queimado e
permanência dos dias. Tacanho,

tenho nada daqui que não seja
a ti nos meus sonhos de passagem,
de passado pastiche. Ensejo

procurar-te, e esta tua pele cinza
sob as roupas, a mim estranhas,
só bons ventos trazem. Entranho

esta luz amarela que brilha dos teus
olhos aos meus e escondem a distância
que não supero da janela. Supurado.

sábado, 7 de abril de 2012

Meus olhos,
cor de sangue,
estão em chamas.
Tu me chamas,
em brasa,
e vou

Perdido estou
nesta pele.
Te peço:
deixa que arda,
e me deixa
sem ar

até que se apague.

E pago.