domingo, 16 de junho de 2013

Quanto mais lavo as mãos
mais sujas elas ficam
dos gestos interrompidos
das palavras interditadas
do emprego sem produção
da incompreensão dos inter
esses
Mãos
limpas do concreto
limpas de toda terra
meras mãos
cheias de dedos
linhas, impressões
fugidias, memórias entulhadas
acumulando poeira
cada vez mais sujas
cada vez que as lavo

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Apesar do inverno a cidade
de pedras arde pelas beiradas
das calçadas
sem acordar já encoberta
já em trânsito para curar
a imolação no ar
condicionado

Nas luzes das esquinas
mariposas e igrejas rondam
certas do caminho torto
aproveitando todo falatório
vivendo do esquecimento
que a luz está
no mesmo ponto

Nas bocas que falam
sempre o mesmo
gosto de um derivado
qualquer de petróleo
que alimenta a máquina
morta do cansaço
de entregar no mundo
sua presença em carne

De olhos fechados
a carne arrastada
pela rua presa a um carro
não pavimenta o acontecimento
que atravessa
a carne dessa flor
que arde
se arde
apesar do inverno

sábado, 1 de junho de 2013

A janela brilha enquanto
dois corpos ocupam
os mesmos espaços
procurando abrir no tempo
o
instante
do acorde que trinca os dentes
do cheiro que permite
o choque
do sexo que
a vida
suspende

Nesse universo de concreto
o sol por vezes se esconde
nas fachadas
de decrépitos prédios
e nasce entre
as fechadas
janelas