quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

in progress

há areia sobre o asfalto
onde antes havia mar
como uma lembrança
do fundo do lugar
                              dragado
                                            tragado
- por necessidade de carros
como modo de vida da urbe -
que ressurge no espelho
feito de um punhado
                                                                            sob o sol de meio-dia
nessa superfície lisa, a combustão
lambe aos poucos
os corpos absorvidos pelo piche
que camada dura sobre a terra é
reflexo
a mostrar impessoalmente
a cidade a tudo aterra
construída em amontoados de
                                                 pessoas e pedras
sobre ruínas
de vias, praias, vilas, memórias
que agora só podem surgir
- como perda
como algo que no coração é falta -
no espaço entre a calçada e a faixa de pedestres
porque reside essa porção de areia
em sua existência eterna
no meio de solados emborrachados vento papéis de bala e latas
em uma espécie de fresta
que há de engolir nossos olhos
e tornar firmes nossas
                                     palavras e pernas
para tomar rumos que resistam ao
cálculo dos metros cúbicos de concreto
à indiferença em progresso
que há de engolir nossos olhos
ao abrir uma fenda na rua
na ressurgência da pulsão do mar