segunda-feira, 27 de agosto de 2018

continuamos sempre no mesmo jogo
de xadrez como no filme do bergman
não há o que lamentar 
na metáfora da derrota certa
o que importa é mexer as peças
e saber que todo movimento é eterno
e decide o próximo passo
como os dados lançados no poema

domingo, 28 de janeiro de 2018

quero o amor de carmen,
mundano,
feito de carne e dança
dentro do tempo - eterno
é palavra que criamos
em algum momento -
e espaço
digo: com sua parte de matéria,
nem sempre pérola
às vezes vil

o amor de carmen,
uma garrafa
                                lançada
em mar aberto
                                (o meio é a mensagem como diria o poeta)
com a promessa de
que na incerteza se
dá o destino
: não coisa prevista
mas aquilo que deriva
do contingente
de vento e correnteza.

carmen
carmen
conheço o futuro em suas cartas,
em sua sorte: desejo e morte
com um riso na boca
                                          claro
e alguma calma
mesmo no melodrama

carmen, amor querido
porque é vivo,
porque é todo passagem,
como é próprio
do que tem dança e carne

sábado, 27 de janeiro de 2018

fogos de artifício
embaixo do guarda-chuva
cortando o coração da noite
e a boca com gosto da grama
escuta o momento da festa
enquanto rumina a terra
com os olhos cravados
nas rachaduras das cascas
das árvores de raízes a mostrarem
que há vida eclodindo nas calçadas
a criarem suas próprias frestas
por entre as pedras para um respiro
quase despercebidas
no meio do vazio de casas prontas
para clínicas
e carros polidos

às vezes parece outra coisa
mas são fogos de artifício
embaixo do guarda-chuva
é um anúncio de algo novo
trazendo outra primavera
com suas novas flores
talvez em jardins de classe média
sem a mesma poética
talvez sem os mesmos hábitos
mas sempre com as rimas forçadas
celebrando amores
baratos em diversas ruas
sem rota e ritmo
descobrindo festas, fogos, artifícios
ainda na falta de versos
há um carro a passar
na rua com a chuva
em palavras há
carro e passar e chuva
mas nos olhos o inteiro
                                            trânsito
em um pedaço firme de asfalto
aceso na carne do olho próprio
que descobre – às vezes atento –
                                                                                                             um resto
de algo que sobra na superfície
que sustenta e é sustentada
pela lascívia da vida
                            que se dá
brotando sem esperar nada
no meio da troca
                                              do fluxo
                                              do fluido
até nascer uma mão dura
que construa no que dá na paisagem
um sentido qualquer
em todo esse passar
de carro palavra chuva rua
de repente
poesia pixo ou música