sábado, 20 de abril de 2013

Procuro uma fala carnal
do concreto que nos situe
neste sítio transpirado
compartilhando asfalto quente
natureza de pedra viva
na boca gosto de sangue
da cidade que cresce
pulsando entre as pernas
escorrendo por nossos braços
este mundo construído
a terra e carne
inscritas nas paredes gritantes
com a gravidade da massa
corrida sobre pés gravados
nos chãos e veias marcadas
nas caras de cores
Procuro uma fala carnal
que entregue o que não vejo
deste lugar entre meus dentes
e minhas mãos que seguram
copos bordas de mesas
e palavras prenhes de momento
cheio de peles entre os dedos
quero a carne das coisas
o viço que perco enquanto digo
escrito não-vivo
lama osso e músculo
daí se levantam esses muros
onde cravo os dentes
que intensificam o pertencimento
e deixam bocas abertas
com um hálito de pedra

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Querida,

ainda se lembra
de nossas paredes rijas
levantadas pelo vigor
de nossas línguas
viçosamente enoveladas
na secura rompidas
a distância das noites
está no frio dos dias
sem cabeças entre
pernas dentro da pele
dos instantes
que escondem o que fora distinto
aquele abandono era destino
cravado na terra
pra além do que piso
com o dente na carne eu
encontrava perdido
nestes sonhos moles
recobertos de fumaça
lambo lembranças
de lugar que habito
abrindo feridas que
fazem jorrar pedras que
permitem esta língua
tecer com linhas de ruína
uma parede
para abandonar o poema

com amor,