domingo, 27 de agosto de 2023

inacabado

terra terra

rio corre grosso

abunda lama

eis as musas

do propício

canto

passadopresentefuturo

misturados

às pedras pequenas

ao barro

das ruas interioranas

onde a poeira é vermelha

onde mora amor e memória


terra terra

terraço quente

coberto por eternit

e cal nas paredes

e calma no meio do caos

da casa sempre cheia

gente por todo lado

pernas primeiro vejo

santos pendurados em quadros

são parte da paisagem

família grande e religiosidade

ainda não entendia

ali formam um mesmo


lama lama

na conjunção das coisas

esquecimento

a vida imediata em que nada

é claro

em que o que foi é cavo

já calvo

entre as coisas apenas buraco?

falta o fio onde se possa agarrar?

está perdido o canto?


recomeço

em busca do círculo

terra rio

terra lama

terra barro

pedra pequena

ruas interioranas

estar em casa


cachoeiro

cidade estranha

vida comum

existência não ordinária

na américa latina

cada vila é cheia

de esquinas

caminhos tortos

o desigual corriqueiro

este é nosso hábito

                     errar

no planejamento

                     errar

na fundação

                     errar

na construção

                     errar

no acabamento

assim seguimos em frente

assim é varjota

assim é são luiz

assim é itabira

assim é brasília            (não nos enganemos, ali há esquinas)

assim é são paulo

assim é rio de janeiro

assim é o pequeno cachoeiro


na parte, a possibilidade de descobrir-se algo da carne que forma o corpo