domingo, 27 de março de 2016

encontrar a identidade no meio
do trânsito como uma travesti
que descobre a si entre
olhares estranhos
espelhos oxidados
e transas
com palavras gastas
em avenidas vazias
iluminadas
por lanternas de carros
rumo a casas pré-fabricadas
carregando consigo edifícios
com fachadas de vidro
- fora brilho, dentro fórmica -

ser lançado no desafio
de fazer do trânsito
entre o que está pronto
um porto que se abre
para mar e tempestade
e saber que sob os pés
há um salto
dado no abismo
e a necessidade
de amar o desconhecido
com o coração no átrio do atrito
fazendo do não-visto
destino

quinta-feira, 3 de março de 2016

há uma puta no ponto
do cruzamento do parque
com uma mala
o que ela guarda?
o que aguarda?
nós que nunca esperamos
nada da vida
sempre prontos
para a próxima
partida
carregamos tudo
o que é preciso
para nos mantermos vivos
em uma parada
incluindo o corpo
a ser mais ou menos vendido
e a intimidade que
lançada no mundo
nunca é dada
ainda que descubramos
o que existe
na mala