segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O redemoinho de asas,
previsão de pássaros,
precede a tempestade
que prendo.
As palavras, como alpiste
consumido pela casa,
em cascas se esvaem
com o plano de desgraça.

As paredes delicadamente
caiadas já estão caídas
pelo chão de madeira.
As invertidas portas
estão abertas por
nada.

A tempestade de asas
precede o silêncio
que precede o olhar
que precede
a tempestade.

O relógio está parado
pendente na parede
no piso
e os pássaros se foram
neste vácuo
vento é o que bate na cara.

Estamos livres.
Há tempestade.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Com os pés machucados
cravados no chão
e as unhas na parede
permaneço preso ao mundo
e prezo pela imundície
que diz - que me diz -
antes doente e vivo
do que falsamente são e morto
cuidando da preservação
das dores
esperando os dados serem
lançados.
Coloco-me sobre a terra
e disputo cada palmo,
com o desejo de um operário,
sem honorário e hora,
fazendo da derrota
trabalho
fazendo da falta, sem revolta,
uma humilde - diminuta –
revolução.
Resoluto, não creio ou rezo,
roído pelos ratos e reis rotos
não me entrego e emprego
o que me resta das mãos para construir
arte
fatos
que farão desse pouco de
traição,
de cheiro azedo,
sangue que pulsa. Com veias abertas,
salta a certeza
do pulso, em haste, teso.