domingo, 27 de outubro de 2013

Toda beleza
caminha bêbada
na corda bamba

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Pra não dizer que não falei das folhas

na página em branco
não há nada
além do possível
encontro concreto
com o que precisa
ser preciso ainda
que ainda incerto

domingo, 6 de outubro de 2013

Domingo no Parque

Sol na copa da árvore
fumo aceso
desejo a habitar a tarde

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

De nada adianta tensionar
a palavra que se quer corrompida
se não se crava com os dentes
a boca no mundo
para experimentar o gosto
de asfalto quente e cimento
e deixar com a língua
a marca como uma lesma

De nada adianta acreditar
na necessidade do léxico
como lixo revirado
e deixar tudo cinza-parede
perfeito sem qualquer ruído
e deixar concretos límpidos
tendo só no piso o pixo
e poesia presa em apartamento

Não há lado a arrebentar
se a palavra fica guardada
seca na boca e as línguas
dobram-se sobre si mesmas
porque não há mais nada
a ser dito porque só há
entre todas as coisas abismos

terça-feira, 1 de outubro de 2013

                                             para I. B.

Na paisagem devastada
muitas ruínas para catar-se
o vigor em traços
no meio da travessia
no meio da estrada

Tudo já foi menos estranho
nessas terras de terra vermelha
que agora obstrói vias
deixa lama nas línguas
olhares lânguidos
abdomes túrgidos

Estamos grávidos do deserto
dessa hora que não passa
do absurdo vulgar insistente
instante que deixa seu rastro
no olho que gasta
a luz do dia em nada

Primavera infundada
perdeu uma pele
na qual brilhava