domingo, 29 de março de 2015

um pássaro canta
das entranhas da madrugada
e da árvore onde
encontra seu canto
abrindo caminho no deserto
entre o carro que rasga
a rua sem rastro
entre o sono de homens
mergulhados na pedra ou no sonho
entre o vapor do cigarro
ardendo a boca do estômago
entre os lábios da puta esperando
com uma mala no ponto
entre o marulho engolido
pelo trabalho no porto
entre a árvore que brota
enraizada num pássaro
que no canto aventa
as tessituras no espaço


quinta-feira, 26 de março de 2015

Naquele instante é a grama
a bola e um campo
todos os espaços medidos
na trava na terra com as pernas
todo tempo é vivido em jogo
o momento do próximo ato
amarrado entre cada corpo
nada em pensamento
o conhecimento encravado
no espaço e no impacto
dos pés no gramado
esperando o movimento necessário
no tempo grávido
do cheiro do mato
da posse do campo
e da bola
a invenção é agora

sábado, 14 de março de 2015

com as mãos meladas
de maresia suor e sexo
descobrimos nossas peles
e nos entregamos ao tato
direto na carne 
temos a tarde toda
querida
para nos deixar escorrer 
entre os dedos
temos a tarde toda
para nos olhar
com os olhos vermelhos
do mar e da maconha
tocamos o ventre
querida
da vida à contrapelo
temos tudo entre os dentes
o tempo inteiro
neste momento
e em nossas línguas secas
o calor do sol

quinta-feira, 5 de março de 2015

sentir o gosto da terra
no cigarro aceso
ao contrário na boca
no momento que a
brasa toca a língua
aqui tudo arde
atordoado e brilha
no olho marejado
todas as distâncias
se retraem
resta o borro
e a gravidez do berro
na descoberta
que o sentido se faz
do calor profundo
da terra